26 de abril

Hoje não tá sendo o dia bom. Não sei por que, mas algo na minha cabeça me diz que escrever iria fazer eu me sentir melhor. E eu mal comecei e já me sinto 10% melhor.
Sei lá, acho que é saudades da terapia. Fazer terapia me ensinou que falar é um processo terapêutico. Meu deus, como eu sinto falta da minha terapia...

Hoje eu sinto desesperança. Beirando o desespero. Nem fazer exercício me empolgou. Às vezes basta uma pedrinha pro trem sair do trilho por completo, né? Hoje foi não poder fazer meu exercício do jeito que eu gosto. Tanta coisa ficou no meu caminho, como se não bastasse o essa pandemia, que quando eu comecei minha cabeça já tava no fundo do poço. O corpo foi sugado pro fundo desse mesmo poço, junto.

Mamãe tenta ajudar. Erivam também. Mas a única coisa que eu queria era estar sozinho. E eu até sou honesto com Mamãe sobre tudo que tá acontecendo por que, sei lá, acho que essa honestidade com ela ajuda ela a entender o que tá se passando comigo e a entender que não é sobre ela. Mas de certa forma, é. Não sobre ela, mas sobre o que eu não posso fazer na minha vida por conta de coisas que fogem do meu controle: estar desempregado, não ter minha casa, não ter minha liberdade, não poder ditar as regras da minha vida. O lado ruim é que a forma que ela tem de ajudar é estando junto, quando tudo que eu mais quero é o oposto disso. Não posso reclamar, por que a intenção dela é boa e representa todo o amor que ela sente por mim, mesmo que eu precisava era o oposto. É distância.

As vagas de emprego sumiram. Nunca mais apareceu nenhuma vaga de RH. E, mesmo sintindo que não vou passar pra única vaga que tô concorrendo, não consigo parar de me segurar no pouquinho de esperança que me resta - e ainda acho que esse sentimento vai me deixar mais devastado quando a negativa vier.

E agora eu tô rindo de quão ridícula é a situação toda:
- Eu podia sofrer por já ter sido reprovado.
- Eu poderia sofrer por ter certeza que vou ser reprovado, sem manter esperança.
- Eu poderia estar todo esperançoso e empolgado e fazendo planos e sofrer quando a negativa viesse.
Mas não. Eu tô sofrendo sabendo que vou ser reprovado, sem ainda nem ter acontecido, mas ainda mantendo esperança e sofrendo por saber que vai ser difícil receber essa notícia ruim. Eu atingi um novo nível de autodepreciação: sofrer por antecipação, manter esperança e sofrer por que vou ser reprovado, e sofrer por saber que vou sofrer quando for reprovado. Tô sofrendo 3 vezes. Faz algum sentido aí? Aqui também não.

Eu só não tenho mais criatividade pra inventar nada pra me distrair, por que já fiz tudo que podia nesses dias e absolutamente tudo que eu gostaria de fazer inclui o único condicionante que não posso controlar: arranjar um emprego pra sair daqui.

E eu sei tudo que minha psicóloga falaria pra mim nesse momento (meu deus como eu tô com saudades da minha psicóloga), mas não quero ouvir a mim mesmo. Não tenho energia pra fazer esse esforço. Talvez se eu listar ajude:
- Foque naquilo que você pode fazer agora
- Faça algo pra mudar aquilo que tá te fazendo sofrer
- Não sofra pelo que ainda não aconteceu
- Quando acontecer e tiver motivo pra sofrer, lembre das outras coisas que estão dando certo e se apegue a elas.

Às vezes isso soa como "se contente com o pouco que você tem e continue se martirizando pra tentar conseguir aquilo que você nunca vai conquistar.

Pelo amor de deus que mamãe não me chame pra participar daquela vídeo chamada. Não com essa cara de choro.

Vou tentar ler um pouco o texto que escrevi ontem (ou foi anteontem?), de quando eu tava me sentindo esperançoso, e talvez dormir pro tempo passar mais rápido e eu ter logo a negativa dessa vaga e voltar a estaca zero.

edita: foi anteontem.

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