um acesso de sanidade

Num acesso de sanidade que deus sabe de onde saiu -talvez da maconha que eu fumei a pouco, talvez da ausência vespertina de mamãe que me permitiu viver um pouco da vida que eu gostaria ainda neste dia - eu consigo dizer, a partir de uma visão surpreendentemente não otimista, mas realista, que eu tenho, hoje, elementos da vida que eu gostaria de ter, e que consigo ter forças pra perseguir o restante que falta.
O mais impressionante é que eu consigo vislumbrar exatamente o que falta: meu lugar. É só isso. Um lugar pra chamar de meu, pra que eu possa fazer o que eu mais amo: ficar sozinho.
Poderia ter dado certo em Imperatriz. Infelizmente tinha algo que me segurava; um assunto mal resolvido e zero disposição pra resolver ele dentro de mim.
Meu divórcio de Erivam foi difícil. Aquele não foi o momento certo pra isso acontecer. Tanta chance desperdiçada. Tanta coisa que poderia ter sido vivido. E pra completar, esse fiapo de relacionamento que ainda sobra... Esse lapso de lucidez de hoje faz eu ficar contente de, as vezes, me sentir incomodado com a presença, mesmo que virtual, dele - talvez seja sinal de que eu de fato superei o que tivemos, de que consigo me ver em outros relacionamentos - mas na maioria do tempo, fico feliz de ter alguém ali pra me dar bom dia e boa noite todo dia. De realmente se preocupar comigo. Só espero que isso não faça mal pra ele, por que o quero muito bem. 
Imperatriz. Foi um surto. E até hoje eu vejo as consequências dessas decisões. Mal pensadas. Imaturas. Espero ter aprendido algo.
Mas era bom, ter minha casa, fazer o que eu quisesse. Pena que eu não tava pronto. Falta tanto autoconhecimento. Faltava saber o que eu realmente precisava. Faltava o que eu aprendi na terapia: estar bem e feliz sozinho.
E hoje, essa é a única coisa que me falta: estar sozinho, pra estar bem. Fiz tanto esforço pra aprender e hoje só falta isso.
Eu estou feliz com o meu corpo e sei como cuidar dele. Estou feliz em não ter ninguém e estou tendo um relacionamento saudável com a minha solteirice e com os potenciais relacionamentos que aparecem.
- Aqui um adendo: eu estaria MUITO feliz tendo alguém, mas eu sinto que sobrevivo bem sem ninguém, também.
Não estou tão feliz com a minha saúde HOJE mas estou bem mais tranquilo a respeito da principal noia que eu tinha sobre ela. E sei que é só questão de tempo e cuidado pra continuar cuidado de cada uma das coisas que aparecerem no caminho.
Estou feliz com a maior parte do meu relacionamento com a minha mãe e minha irmã; os poucos atritos que ainda tempo é exatamente por conta do que ainda me falta: espaço pra estar sozinho.
E é tudo que eu quero: um quarto vazio. Um quadro em branco. Pronto pra eu cria-lo do meu jeito. Um canto de cada vez, com atenção a cada item, com todos os detalhes a minha cara. Cada quadro na parede, cada tapete no chão. Cada pedacinho da cozinha. Tudo meu, do meu jeito, com as minhas regras, do jeito que me faça feliz.
É só isso que falta. E, apesar do tom melancólico e de saber que pode estar distante, eu falo isso com um tom de esperança. Não. Não esperança. De determinação. De saber que vou continuar tentando a cada dia.

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